domingo, 20 de julho de 2008

o anjo.

Passaram-se muitos anos desde que tudo aconteceu, lembro-me daquela tarde de outono, quando eu corria para longe daquela casa, daqueles problemas. Eu era uma típica garota rica da cidade e meus amigos me chamavam de Mel, apenas eles, pois meus pais e criados me tratavam como Mellina Boier. Eu corria bastante para uma menina mimada, só não corria mais por conta do channel número 35 que denunciavam pés pequenos para uma garota de 17 anos. Corri em direção ao Central Park, meu lugar favorito. Era lá onde eu ia quando precisava pensar, quando eu não queria esbarrar com nenhum rosto familiar; onde só eram eu, aquele velho banco e os pássaros.
Em um piscar de olhos apareceu um garoto na minha frente. Eu estava sentada com a cabeça baixa, então fiquei um pouco assustada com aquele rosto me fitando. Por um momento pensei em mandá-lo embora aos gritos, mas havia algo no seu olhar que me deixou sem ação. Houve um silêncio incômodo. Ele finalmente falou: - Eu acho que você não se lembra de mim, mas eu te conheço, Mel. Sinto algo diferente em você. – Foi aí que eu notei aquele rosto. Era Miguel, o responsável por limpar a piscina onde eu passava a maior parte do tempo. Mas eu nunca o tinha notado, confesso que sou um tanto distraída. E ele estava certo, havia algo diferente em mim, eu já não via mais graça em sair pulando e mexendo meus pompons cor-de-rosa gritando “me dá um W, me dá um O, me dá um L, me dá um F! Vai WOLF!”, e já estava cansada de tanta falsidade ao meu redor. E antes que eu pudesse dizer ao Miguel que o reconhecia, pingos de chuva começaram a cair do céu tão rapidamente que só deu tempo da gente correr para qualquer lugar que nos protegesse daquela água toda. Era uma sorveteria aconchegante e, devo dizer, com um sunday maravilhoso. Então ficamos lá, esperando a chuva passar e o céu se acalmar, conversando por várias horas.
Hoje, 20 de outubro de 2008, é meu aniversário de 30 anos. Estou aqui na sorveteria perto do Central Park relembrando esse fato que acabo de escrever. Não posso esquecer de mencionar o motivo da minha revolta adolescente daquela tarde de outono. Não era mais uma das minhas crises de identidade. Meus pais haviam me contado sobre o divórcio repentino deles, e antes que eu pudesse ouvir o motivo daquilo tudo eu já estava correndo em direção a qualquer lugar, pronta para não viver mais, para talvez fugir daquele inferno que eu chamava de vida. Graças aos céus e àquela chuva, e ao Miguel é claro, eu consegui me recompor e voltar para casa. Passei a viver a vida com mais alegria e sai daquele mundo superficial em que fingia viver. O Miguel? Nunca mais o vi, mas também não o esqueci. Gosto de pensar que ele foi o meu anjo da guarda naquele dia e, por isso, todos os anos nessa mesma data, venho aqui na esperança de reencontrar o meu anjo perdido.

2 comentários:

Elfox disse...

this is really good. i actually read it yesterday, but i couldn't be bothered to post a comment so i came back today and re-read it. and it is really, really good.

keep it up.

:*

Danielle F. disse...

meu cooooooonto a.a

aoksopakpsos
-oi